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Valsas entre sentenças de cinza e razões de vento. Uma conversa com José Miguel Gervásio

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Com o transplante da existência para os domínios virtuais, o mais difícil é fazê-los acreditar na realidade. Vivem asfixiados em poços cegos, consumidores de juízos alheios, imersos num zumbido que se torna o predador engendrado pela espécie contra si mesma. São essas ficções infindáveis nas quais em vão procuramos qualquer coisa real para dar ao dente. Apetece citar Ernesto Sabato no seu Relatório Sobre Cegos: “Sempre me fez rir a falta de imaginação desses senhores que julgam que para descobrir uma qualquer verdade é necessário dar aos factos ‘as devidas proporções’. Esses anões imaginam (também eles têm imaginação, claro, mas uma imaginação anã) que a realidade não ultrapassa a sua própria altura, nem é mais complexa que o cérebro de uma mosca. Esses indivíduos que a si mesmos se classificam de ‘realistas’, porque não são capazes de ver para lá dos seus próprios narizes, confundindo a Realidade com um Círculo-de-Dois-Metros-de-Diâmetro com centro na sua modesta cabeça. (...) Como se alguma vez na história da humanidade tivesse acontecido algo de importante que não tivesse sido um exagero, do Império Romano a Dostoievski.” E, contudo, vez por outra surgem-nos relatos que mergulham a fundo nestas águas, como acontece no trabalho de José Miguel Gervásio, pintor e escritor, alguém que suporta em si mesmo essa complexa dualidade de um criador e um destrutor, um fantasista e um céptico, um lírico e um cínico. O seu livro mais recente, “Não são para valsas todas as noites”, larga-nos no meio de uma cavalgada furiosa de episódios, uma feira, um tropel de gente, uma festa popular de malucos e malucas, tudo chalado, uma alegria enorme e quase insensata, tudo tão perto de nós e tão naturalmente reproduzido na escrita. Para sermos mais justos na apreciação daquela novela teríamos de falar numa poesia do quotidiano feérico nessas províncias que se permitem um sobre-realismo em que todas as 'imagens' dos outros se volvem mitos caseiros de prodigiosa dinâmica pícara. Eduardo Lourenço escrevia a propósito de um outro livro algo que merece ser reaproveitado para este, de forma a colmatar o vazio crítico de que se viu cercado depois de ter saído dos prelos. "É possível que esta obra tão vertiginosa e desconchavada não tenha mais futuro literário que um passado ainda não inteiramente digerido pela ficção nacional sempre acolhedora para as audácias falsas ou verdadeiras da estranja, mas pouco sensível para a dos inconformistas nacionais. De qualquer modo, o exemplo da sua provocação intrínseca e não meramente decorativa, como imaginariam os críticos, e isto paralelo ao da inspiração desbragada, de tradição caseira, do mais marginal dos nossos autores, Luiz Pacheco, constitui uma referência viva contra toda a possível domesticação do imaginário lusíada”. Se acham que exageramos, fica o desafio: vão ler, façam a prova dos nove, e logo falamos.

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Com o transplante da existência para os domínios virtuais, o mais difícil é fazê-los acreditar na realidade. Vivem asfixiados em poços cegos, consumidores de juízos alheios, imersos num zumbido que se torna o predador engendrado pela espécie contra si mesma. São essas ficções infindáveis nas quais em vão procuramos qualquer coisa real para dar ao dente. Apetece citar Ernesto Sabato no seu Relatório Sobre Cegos: “Sempre me fez rir a falta de imaginação desses senhores que julgam que para descobrir uma qualquer verdade é necessário dar aos factos ‘as devidas proporções’. Esses anões imaginam (também eles têm imaginação, claro, mas uma imaginação anã) que a realidade não ultrapassa a sua própria altura, nem é mais complexa que o cérebro de uma mosca. Esses indivíduos que a si mesmos se classificam de ‘realistas’, porque não são capazes de ver para lá dos seus próprios narizes, confundindo a Realidade com um Círculo-de-Dois-Metros-de-Diâmetro com centro na sua modesta cabeça. (...) Como se alguma vez na história da humanidade tivesse acontecido algo de importante que não tivesse sido um exagero, do Império Romano a Dostoievski.” E, contudo, vez por outra surgem-nos relatos que mergulham a fundo nestas águas, como acontece no trabalho de José Miguel Gervásio, pintor e escritor, alguém que suporta em si mesmo essa complexa dualidade de um criador e um destrutor, um fantasista e um céptico, um lírico e um cínico. O seu livro mais recente, “Não são para valsas todas as noites”, larga-nos no meio de uma cavalgada furiosa de episódios, uma feira, um tropel de gente, uma festa popular de malucos e malucas, tudo chalado, uma alegria enorme e quase insensata, tudo tão perto de nós e tão naturalmente reproduzido na escrita. Para sermos mais justos na apreciação daquela novela teríamos de falar numa poesia do quotidiano feérico nessas províncias que se permitem um sobre-realismo em que todas as 'imagens' dos outros se volvem mitos caseiros de prodigiosa dinâmica pícara. Eduardo Lourenço escrevia a propósito de um outro livro algo que merece ser reaproveitado para este, de forma a colmatar o vazio crítico de que se viu cercado depois de ter saído dos prelos. "É possível que esta obra tão vertiginosa e desconchavada não tenha mais futuro literário que um passado ainda não inteiramente digerido pela ficção nacional sempre acolhedora para as audácias falsas ou verdadeiras da estranja, mas pouco sensível para a dos inconformistas nacionais. De qualquer modo, o exemplo da sua provocação intrínseca e não meramente decorativa, como imaginariam os críticos, e isto paralelo ao da inspiração desbragada, de tradição caseira, do mais marginal dos nossos autores, Luiz Pacheco, constitui uma referência viva contra toda a possível domesticação do imaginário lusíada”. Se acham que exageramos, fica o desafio: vão ler, façam a prova dos nove, e logo falamos.

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